terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Mesmo depois de uma semana da tragédia, Igreja segue de olho no Haiti

Enquanto o desastre se apodera do Haiti, os olhos da Igreja se concentram no país mais pobre do Ocidente, cujo sofrimento foi esquecido durante muito tempo, denuncia o cardeal Josef Cordes. O presidente do Conselho Pontifício Cor Unum, dicastério vaticano encarregado de coordenar as agências católicas caritativas e de ajuda, falou com Zenit das consequências do terremoto que devastou Porto Príncipe no dia 12 de janeiro. Nesta entrevista, o purpurado alemão fala dos danos sofridos por este país e das necessidades que terá de enfrentar nos próximos dias, meses e anos.

--O que o senhor sabe dos danos provocados pelo terremoto?

-- Cardeal Cordes: No início, a comunicação era difícil, mas estamos começando a receber informes das agências católicas que trabalham diretamente lá, como os Catholic Relief Services [CRS, a Cáritas dos bispos dos Estados Unidos, N. da R.], os representantes nacionais da Cáritas enviados ao Haiti pelos seus bispos, a Cruz Vermelha Internacional e a Conferência Internacional da Sociedade de São Vicente de Paulo.

--Quais são as necessidades mais imediatas?

-- Cardeal Cordes: Toda catástrofe natural é única, mas nossa longa experiência de desastres precedentes (por exemplo, o tsunami de 2004 e o furacão Katrina) mostra duas fases diferentes:

a) A curto prazo, são necessárias pessoas para salvar vidas, responder às necessidades básicas (água, comida, casa, prevenção de doenças), restabelecimento da ordem.

b) A longo prazo, é necessário reconstruir e para isso é preciso oferecer ajuda espiritual e psicológica, sobretudo quando a atenção dos meios de comunicação diminui.

--Que ajuda a fé oferece em uma catástrofe como esta?

-- Cardeal Cordes: A fé daqueles que sofreram neste desastre desempenhará um papel fundamental, não somente para aliviar suas feridas físicas e suas perdas, mas também para enfrentar a dimensão espiritual e o sentido que é preciso descobrir nesta catástrofe.

--Desta tragédia sairá algo positivo?

--Cardeal Cordes: Este é um desastre que provocou muitíssimas vítimas e um imenso sofrimento. Serão necessários muitos anos para que a nação possa se reconstruir materialmente e para que a população se recupere espiritualmente. Por este motivo, a Igreja tem de estar presente, ainda que outros vão embora.

Os cristãos enfrentam o presente com confiada esperança no Senhor Jesus, crucificado e ressuscitado. Em sua encíclica Spe salvi, o Papa Bento XVI explica como viver os sofrimentos deste momento com a esperança no futuro. Isso não significa que os cristãos saibam o que os espera, mas sabem em termos gerais que sua vida não acabará no vazio: “Somente quando o futuro é certo como realidade positiva, é que se torna vivível também o presente” (n. 2). http://www.zenit.org/article-23816?l=portuguese

O Papa Bento XVI voltou a mostrar hoje, durante a oração do Ângelus, sua preocupação pela situação do Haiti, a cujos habitantes quis manifestar seu afeto e sua oração. Neste sentido, o Papa afirmou que acompanha e apoia “o esforço das numerosas organizações caritativas, que estão se encarregando das imensas necessidades do país”. “Rezo pelos feridos, pelos sem-teto e por todos aqueles que perderam tragicamente a vida”, acrescentou. “Imploro sua proteção particularmente para a querida população do Haiti, tão duramente provada, para que encontre assistência a apoio.” http://www.zenit.org/article-23823?l=portuguese

As Pontifícias Obras Missionárias (POM), a agência Fides e outros organismos religiosos comunicaram a situação dos missionários que moram no Haiti. Algumas congregações sofreram perda de vidas humanas, ainda que a maioria só teve danos materiais. http://www.zenit.org/article-23834?l=portuguese

Zilda Arns é “um exemplo de altruísmo que pode inspirar cada um a ajudar o povo do Haiti”, afirma o bispo auxiliar de Belo Horizonte e reitor da PUC Minas, Dom Joaquim Giovani Mol Guimarães.

Segundo o bispo escreve em artigo enviado a ZENIT hoje, a morte de Dra. Zilda foi “uma tragédia dentro de outra tragédia”.

“Zilda Arns cumpriria no Haiti apenas mais uma das milhares de atividades que, durante essas últimas décadas, vinha, de modo diligente e exemplar, realizando cotidianamente: defender a vida dos mais pobres. Impedir, especialmente, a morte prematura de crianças por falta de cuidados básicos.” http://www.zenit.org/article-23824?l=portuguese

Crônica do sacerdote mexicano Antonio Sandoval, coordenador geral da Cáritas Latino-Americana e do Caribe, diretamente de Porto Príncipe, onde se encontra assistindo as vítimas do terremoto que atingiu o Haiti.

* * *

Os dias estão sendo marcados pela dor e pela tristeza das pessoas que praticamente perderam tudo, exceto a fé e a esperança. Cada noite, quando estou deitado, consigo ouvir os cantos das pessoas que rezam em sua língua a Deus e agradecem pela vida, ainda que em sua maior precariedade.

Desde a minha chegada, produto da providência, o que encontrei foi um povo devastado em suas construções: casas, escolas, igrejas, lojas, escritórios governamentais: muito do que tanto esforço lhes custou para construir está totalmente em ruínas.

À noite, as pessoas invadem os canteiros, quando existem, ou fecham as ruas para organizar-se para dormir nelas. A energia elétrica está suspensa em toda a cidade. Fogueiras em diversos lados falam da incipiente organização das pessoas para preparar seus escassos alimentos.

Percorri com a equipe da Cáritas diversos pontos de Porto Príncipe, que, por ser a capital e estar muito afetada, captou a atenção internacional. As cenas que nossa equipe viu (vários resgatistas mexicanos, dois religiosos de Pai Pei, cooperadores da Cáritas do Norte que se uniram, além do staff da Cáritas Internacional) e compartilhou na Cáritas Nacional são arrepiantes pela dor, mas, contraditoriamente, elas nos fortalecem ao descobrirmos que nenhum terremoto, por mais severo que seja, pode prostrar o ser humano.

Os sobreviventes entre os destroços, naturalmente, cada dia serão menos. Hoje foram resgatadas pessoas vivas do hospital que desmoronou, alguns com membros já em estado avançado de putrefação, aos quais não houve outro remédio a não ser a amputação de algum membro. Serras, cinzéis e martelos substituíram a carência de material cirúrgico adequado.

As mesas de trabalho dobráveis se transformaram em lugares para fazer as cirurgias necessárias. As religiosas mexicanas e os médicos que atenderam no hospital são um exemplo de entrega incansável. Assim também nossos resgatistas mexicanos, que deixaram suas famílias e seu trabalho para tentar atender este povo em seu sofrimento.

O Haiti parece ser levado adiante por uma mão que lhe impede de desmoronar. A presença da polícia nacional é escassa e a dos soldados das forças de paz das Nações Unidas está apenas em alguns lugares estratégicos.

Hoje o dia começou com esperança. Tivemos a primeira reunião de coordenação de todas as Cáritas presentes no país para a emergência. Predominou a vontade de concórdia e de colaboração para canalizar a ajuda que começa a chegar aos mais afetados. Sem protagonismos estéreis, chegamos a diversos acordos.

Depois começamos a visitar as comunidades atingidas fora de Porto Príncipe. Petit Goave e Leogane foram nossos destinos. A primeira estava com a igreja destruída e muitas casas, impossíveis de contar, ao longo do caminho, totalmente em ruínas. Em Leogane, o panorama foi desolador. Não pudemos chegar até o centro da cidade de carro porque as ruas estavam bloqueadas. Caminhamos pela avenida principal, que parecia ter sido vítima de um bombardeiro, onde 4 de cada 5 construções estavam no chão. No centro da cidade, na praça principal, na frente da igreja em ruínas, montou-se um acampamento no qual com certeza poderia haver cerca de 500 barracas, com aproximadamente 5 a 8 integrantes em cada uma. Está parecendo Porto Príncipe em sua destruição, mas sem a atenção que a capital atraiu. Não parece estar chegando ajuda a estas comunidades.

Junto à dor, antes comentada, existem muitos gestos de solidariedade. As religiosas da Madre Teresa improvisaram um pequeno hospital em uma casa que elas têm na periferia da cidade. Novamente, estão atendendo os doentes à intempérie, apenas cobertos por uma lona e sobre mesas e macas improvisadas. As pessoas, que não têm a quem recorrer, carregam seus doentes nos ombros às vezes por vários quilômetros. O transporte público é escasso e está saturado, impossível de introduzir um doente.

Os sinais de solidariedade da comunidade internacional estão começando a fluir, ainda que de maneira lenta. Esperamos que, a partir de amanhã, possamos ter elementos mais concretos sobre como se está mobilizando esta solidariedade. http://www.zenit.org/article-23818?l=portuguese

Resumo da semana

http://www.youtube.com/watch?v=r9-ZS_aQdQo

Falta Comida

http://www.youtube.com/watch?v=yrNvIAs6R1Y&NR=1

Igreja onde morreu Zilda Arns, a fundadora da Pastoral da Criança

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